No atual quadro político, movimento sindical precisa fazer autocrítica

Não podemos ser radicais, recusando tudo. Precisamos conversar. Quando agimos assim, o resultado foi a aprovação da terceirização ampla e irrestrita

Luís Alberto Alves/Comunicação CNTQ

O presidente da Fequimfar (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas no Est. de SP) e 1º secretário da Força Sindical, Sergio Luiz Leite, o Serginho, afirmou ontem na reunião da CNTQ com vários sindicalistas em Praia Grande (SP), que o movimento sindical precisa fazer uma autocrítica. “É importante sermos sinceros com nós mesmos. Organizamos vários eventos, principalmente a maior marcha sindical em Brasília, em 24 de maio. Porém precisamos detectar rapidamente que a proposta do governo é matar os sindicatos, não deixá-los desmaiados”, disse.

Segundo Serginho tudo começou quando o vice-presidente Michel Temer tomou o lugar da presidente Dilma Rousseff, provocando divisão no País. “Alguns se arrependeram de apoiar a queda da presidente Dilma. Porque a reforma era política de mercado e qualquer um tinha de fazer. Precisamos saber agora qual é o nosso papel”, questionou.

Serginho detalhou que são feitas diversas visitas aos senadores, explicando os motivos para rejeitar o texto do relator da reforma trabalhista. “ Temos 11 votos dentro de 26. Não podemos ser radicais, recusando tudo. Precisamos conversar. Quando agimos assim, o resultado foi a aprovação da terceirização ampla e irrestrita”, lembrou.

Na reforma trabalhista, explica, também tivemos problemas. Em vários congressos estaduais expus essas questões. “Saber o que o trabalhador pensa na base. Não fizemos o debate a respeito da reforma trabalhista. A prioridade atual é discutir esse tema com os senadores. E uma grande vitória é provocar discussão ampla a respeito dessa reforma”, disse.

Manifestação

Segundo Serginho, foi errado as centrais não se protegerem dos black blocs na marcha de Brasília. “Eles não fizeram isso sozinho, tiveram ajuda da polícia do DF infiltrada. A manifestação balançou a estrutura do governo federal, a ponto de convocar o Exército. Porém o presidente da Ferquimfar (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Ramo Químico, Farmacêutico e Material Plástico do Estado do Rio de Janeiro) e secretário-geral da Força Sindical RJ, Isaac Wallace de Oliveira, discordou da posição de Serginho.

“Trouxemos 800 trabalhadores que saíram do Rio de Janeiro dispostos a enfrentar a repressão, invadir e acampar dentro do Congresso Nacional. As grandes revoluções ocorridas em todo o mundo não foram por meio do pacifismo, alguns pagaram com a própria vida, como ocorreu, por exemplo, com o líder negro Martin Luther King nos Estados Unidos. Nosso sentimento é que confiamos na nossa liderança e nos decepcionamos. Hoje, no Brasil, temos duas lideranças sindicais Lula e Paulinho”, disse.

A mesma opinião teve o presidente da Fequimfars (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas no Estado do Rio Grande do Sul) e 1º vice-presidente da CNTQ, Larri dos Santos, explicando que não se pode misturar cargo público com direção de central. “Caso prossiga nesta posição, segundo Larri, os sindicatos correm riscos no futuro de perder credibilidade junto ao trabalhador”.

Serginho frisou que não se pode procurar culpados na federação ou central, mas é preciso encarar o problema de frente. Quanto à partidarização é preciso ir além. “Quanto à reforma política, pelo atual quadro, só se elegerá quem tiver dinheiro, no caso do empresariado. Devemos tratar os assuntos políticos com seriedade. O importante é focar no que interessa ao movimento sindical”, salientou.

Avançar

O presidente da Feprovenone (Federação dos Sindicatos de Propagandistas, Propagandistas-Vendedores e Vendedores de Produtos Farmacêuticos do Norte e Nordeste) e vice-presidente da Força Sindical Sergipe, Fernando Ferreira, que já criou outras duas federações desta categoria ao entrar em contato com a CNTQ, destacou que em Sergipe, o deputado Laercio Oliveira foi uma das pessoas que defendeu a terceirização. “Além do mais, na marcha de Brasília deveria estabelecer a comunicação para saber o que todos iriam fazer, de forma antecipada”, criticou.

O presidente da CNTQ (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Químico) e do Sindiquímicos Guarulhos, Antonio Silvan Oliveira, destacou que os trabalhadores conseguiram avançar em diversas discussões, porque o Serginho obteve credibilidade junto ao setor químico, em todo o Brasil. “De fazer gestão financeira correta, agir de forma ética, de que nós possamos usar a comunicação sindical de forma adequada, dizendo o que somos e o que fazemos. Temos de divulgar os dados econômicos que o governo esconde, caso do dinheiro pago ao mercado financeiro”, disse.

Quanto à frustração da marcha de Brasília, de fazer um ato diante do Congresso Nacional, explica Silvan, para os companheiros de Goiás o ideal era realizar o ato dentro do Congresso. A reabertura de negociações com o governo foi por causa do tamanho das manifestações.

“Que os químicos filiados à Força Sindical realizem algo que fortaleçam as lideranças dessas centrais. Em nome da CNTQ temos orgulho do trabalho que o companheiro Serginho realiza, independente de central, acolhe o químico, sem olhar sua filiação. A partir de 93 ao lançarmos o SOS Químicos de SP chegamos ao estágio atual. É importante conquistar postos dentro das centrais. É a categoria química que nos une. De forma estratégica não somos filiados a nenhuma central sindical”, argumentou.

Independente

Para o presidente do Sindicato dos Químicos de Itapetininga e tesoureiro da Fequimfar, Jurandir Pedro de Souza, o setor químico quando esteve dentro da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria) bateu muito em busca de mudanças, até chegar o momento de partir para cima da situação. “Por causa disto, sabemos que o Serginho é um dos mais combativos dentro da Força Sindical Nacional, por causa do trabalho realizado. “Viemos para mudar, colocamos o dedo na ferida sempre. Temos de lutar lá dentro para ocorrer mudança. No congresso da Força Sindical é o local para fazer isto. Fica a dúvida de saber quem fala, o político ou presidente da central. A unidade química não é só no Sudeste, mas em outras regiões do Brasil”, destacou.

O presidente do Sindicato dos Químicos de Bauru e tesoureiro da Fequimfar, Edson Bicalho, disse que o movimento sindical precisa sofrer depuração, para retirar impurezas, que atrapalham a busca por melhorias. “O sindicalismo brasileiro precisa sofrer a depuração. Independente da central sindical ou partido político, será alvo de crítica. Se vocês imaginarem que vamos mobilizar trabalhadores a discutir a reforma trabalhista perderemos por causa da grande mídia. O caminho é discutir a reforma da Previdência, que atinge a todos. Quando se fala de dirigente sindical e político ao mesmo tempo é bom quando bem usado. Ao misturar o Solidariedade com a central é ruim. Porém, nenhum parlamentar defende o trabalhador igual ele. Neste partido tem sindicalista e empresário, igual nos outros. Como se constrói governança sem alianças”, questionou.

Bicalho enfatizou que os partidos e o movimento sindical precisam ser discutidos. Nas outras centrais tem divergências, quando o PT estava no poder, vários sindicados saíram da CUT para entrar na Força Sindical. Quando começou a discussão das reformas, eu coloquei várias questões críticas. “Na marcha a Brasília, ocorreu reunião com a polícia, governo. Tudo organizado. É difícil discutir mínimos detalhes relativos aos problemas existentes nas centrais. Porém podemos entender que temos um Congresso Nacional corrupto e mais reacionário do mundo. Infelizmente o governo aprova o que quiser por causa do dinheiro do empresariado”, disse.

O presidente do Sindicato dos Químicos de Biguaçu e secretário regional Sul da CNTQ, João Sérgio Ribeiro, alegou ter divergências com o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho e admiração pelo trabalho de Serginho. “Na federação eclética de Santa Catarina temos nosso departamento químico que funciona, do contrário já teríamos outra federação. As centrais têm problemas. O nosso movimento sindical está engessado. Fiquei triste com a Marcha a Brasília. Concordo que precisamos colocar deputados do movimento sindical. No sindicato que dirijo não preciso de federação, confederação e central. Precisamos ter jogo de cintura. Vamos parar de falar de central. Deixe isso para o congresso da Força”, afirmou.

Referência

Para o presidente do Sindicato dos Químicos de Marília, Maurílio Pereira Alvim, que passou os dois últimos meses acompanhando as audiências públicas no Congresso Nacional, o governo Michel Temer conseguiu fatiar o movimento sindical. “Para cada categoria discutir seus problemas. Hoje estamos nos ajuntando novamente. Não é momento para falarmos mal de central. Se dividirmos, entramos no jogo do governo. Sempre critiquei o Paulinho, mas sugiro acompanhar o trabalho dele no Congresso Nacional. Lá não se faz reunião com outra central, sem a presença dele”, frisou.

Destacou ser petista de carteirinha, mas jamais sairá da Força Sindical. “Não devemos torcer o nariz para político. Precisamos criar um candidato do setor químico, cada setor tem o seu candidato. Não importa a região, para quando chegarmos a Brasília precisarmos ter referência. Se começarmos a torcer o nariz para político, vamos enfrentar problemas, argumentou.

Após ouvir o desabafo de vários dirigentes sindicais, com entidades filiadas à CNTQ e a centrais, Serginho reiterou que não se pode desiludir com questões políticas. “Faremos nossa lição de casa. Quando se fala de Medida Provisória, é porque o governo não tem maioria de votos. Só existe espaço para conversa, por causa da marcha e greve geral de 28 de abril. O caminho está focado, mas a vitória é difícil. Debate só engrandece o movimento sindical”, ressaltou.

Lembrou que para o final de junho, está agendada mais uma greve geral. “Aumentaremos as conversas com os senadores. Vamos discutir tudo o que for possível, não podemos jamais permanecer quietos. A reforma está colocada, criando conceito que a lei trabalhista e a Previdência atrapalham o Brasil junto ao mercado. Para salvar os trabalhadores é preciso salvar a estrutura sindical. Às 10h da manhã do dia 6 ocorre a eleição na comissão do senado a respeito da reforma trabalhista.

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