“Não existe razão para se cobrar juro alto no cartão de crédito”

Luís Alberto Alves/Comunicação CNTQ
“Não existe razão para se cobrar juro alto no cartão de crédito”, alertou o economista e matemático José Dutra Vieira Sobrinho, há mais de 40 anos um dos grandes especialistas em mercado financeiro no Brasil. O grande problema em nosso país, segundo ele, é que a sociedade concorda em pagar juros altos no cartão de crédito sem fazer qualquer tipo de questionamento.
O mês de fevereiro fechou com os juros médios do cartão de crédito no Brasil em 419,6% ao ano. A maior taxa desde outubro de 1995. Quem tiver uma dívida de R$ 1.000,00 e cair no vermelho, em um ano essa dívida aumentará para R$ 5.196,00. No mês de janeiro, esse percentual ficou em 410,97%. Ou seja, não ocorreu queda.
“Nos Estados Unidos, inventores desta modalidade financeira, o juro cobrado no cartão de crédito é de 13% ao ano. No Peru cobra-se 44,8%; na Argentina, 35,82%; no Chile, 32,54%, na Colômbia, 28,31% e México, 39,16%”, explicou. De acordo com Dutra, o brasileiro faz leitura errada da taxa Selic. “Hoje é de 14,25%, mas se esquece de calcular o juro mensal”, disse.
Dutra não concorda com a justificativa de se cobrar juro tão elevado para compensar os consumidores inadimplentes e demais despesas tributárias. “Mesmo se o cartão de crédito praticasse taxa de 40% ao ano no Brasil, os bancos continuariam ganhando muito dinheiro, como sempre ocorre”, afirmou.
Infelizmente a situação não mudará, enquanto a sociedade não discutir com o mercado financeiro, parâmetros mais civilizados nesta relação de consumo. “Há 40 anos ouço a mesma conversa, de que o juro alto é para cobrir suposto prejuízo com a inadimplência. Para complicar, o noticiário econômico na grande imprensa é tendencioso, por causa dos anunciantes, a maioria bancos”, finalizou.