Medidas econômicas adotadas pelo governo deram início ao ciclo vicioso da pobreza
Para o supervisor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Sandro Silva, as atuais medidas adotadas pelo governo no pacote de ajuste fiscal deram a largada para o início do ciclo vicioso da pobreza como ocorreu na década de 1990. “Para o governo ter superávit primário (dinheiro que sobra após pagamento das dívidas) precisou adotar medidas amargas. O problema é que 2015 começou com inflação alta, a maior desde 2003. Por outro lado, o aumento da renda dependerá da economia, que está gerando poucos postos de trabalho e sente crescer o desemprego”, avaliou.
A tábua de salvação do governo consiste no tripé: controle da inflação+ câmbio flutuante+ metas fiscais. “Todo esse sacrifício para ganhar confiança do mercado. Por outro lado a economia patina por falta de apoio dos agentes financeiros”, disse. O ciclo vicioso da pobreza é quando o trabalhador abaixa o consumo por falta ou pouco dinheiro no bolso. Num efeito em cadeia, a indústria reduz a produção, por causa da diminuição dos pedidos, demite e comércio também começa a vender pequenas quantidades de mercadoria. Até na alimentação acontecem cortes, merecendo destaque no carrinho de compras apenas o itens de extrema importância na mesa do trabalhador.
O economista do Dieese lembrou que antes de 2004, os reajustes salariais eram para repor perdas. Após esse período começaram a ocorrer ganhos reais. “Em 2014, apuramos que 93% das negociações tiveram ganhos reais. Apenas 2,3% dos acordos foram assinados abaixo da inflação. Desde 2010 o ganho real foi acima de 1%”, calculou.
Na avaliação dele, a perspectiva para 2015 não é das melhores em negociações coletivas. “É o pior cenário desde 2003. O desafio do movimento sindical é continuar obtendo ganho real”, afirmou. Não estão descartadas medidas restritivas, que podem fazer com a economia entre em recessão, afetando o mercado de trabalho, aumentando o desemprego e a informalidade, além de reduzir a renda.
O grande problema, na opinião de Silva, é que na gestão Lula, houve valorização do mercado interno, ampliação das políticas públicas, correção do salário mínimo, redução dos juros. “O Brasil chegou a registrar 4% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010. Mas a partir de 2011 começou a queda”, analisou. A estimativa de alta de 1,25% do PIB para 2015, crise internacional, queda de investimento (principalmente da indústria), taxas de juros elevadas e taxa de câmbio valorizada, parte do consumo suprida com importações aliado ao noticiário negativo servirão de pedras no sapato da presidente Dilma Rousseff.
“Juros altos afetam as vendas no comércio. Só para rolar a dívida pública em 2013 o governo gastou R$ 250 bilhões; mais de dez vezes o valor pago com o Bolsa Família (R$ 21 bilhões). Para complicar, a maioria dos produtos vendidos no Brasil é importado”, explicou. No final de 2012, a taxa Selic chegou a 7,25%. Na ótica do governo existia o consenso de que a economia continuasse crescendo. “Muitas empresas preferiram especular no mercado financeiro, aliás, as grandes não ganham só na produção, mas no mercado de capital”, ressaltou.
O problema do Brasil, destaca Silva, não é uma inflação provocada pela explosão do consumo, por que os juros não resolvem só os problemas inflacionários , o governo retira subsídio da energia elétrica e provoca alta da luz. Apostou na redução de impostos com as montadoras de automóveis, não obteve sucesso. “Só com subsídios ao setor privado, ele deixou de arrecadar R$ 70 bilhões e com a desoneração da folha de pagamento não entraram nos cofres públicos R$ 21 bilhões. Com mais restrição na economia, redução de receitas, o País caminha a passos rápidos para a recessão”, finalizou.